Pará – Parte 1: dois dias de experiências gastronômicas em Belém

Para comemorar o novo layout do blog, pensado com carinho por Bruno Ayub, segue uma postagem cheia de sabor sobre uma viagem rica que fizemos.

Assim que começamos a namorar, Bruno falou-me sobre a vontade de conhecer Alter do Chão, uma praia de rio. Eu nunca tinha ouvido falar, mas fiquei curiosa.

No início deste ano, nossos amigos Fernanda Vidigal ( http://cabotiah.com/ ) e Leo Gazzola nos convidaram para aproveitar uma promoção de passagens e conhecer Alter. Topamos na mesma hora!

No último mês, a viagem se concretizou. Iniciamos com duas noites em Belém. Já conhecia a cidade, mas foi ótimo revisitar os seus sabores. Para inspirar outros cozinheiros e viajantes, seguem o destaques dessa rápida passagem pela cidade.

Dois dias em Belém é pouco tempo, mas é possível fazer três paradas gastronômicas imperdíveis: Remanso do Peixe, Remanso do Bosque e Mercado Ver-o-peso. E, caso haja tempo, faça um passeio na Ilha do Combu.

O Remanso do Peixe foi criado pelo Seu Chicão, pai do chef Thiago Castanho, em tempos de dificuldades financeiras e virou um sucesso. A casa, dentro de uma pequena vila, virou um restaurante de médio porte com várias mesas e alguns tantos funcionários. A comida é típica do Pará e os pratos são muito bem servidos. Destaque para o casquinho de caranguejo ( vale a repetição! – uma carne muito fresca) e para a moqueca paraense do seu Chicão feita com o macio peixe filhote e molho à base de tucupi. Pedimos com camarão também, mas acho realmente que seria dispensável, dada a qualidade do peixe.


O Remanso do Bosque é o restaurante do chef Thiago Castanho, filho do Seu Chicão. Conservando as raízes típicas paraenses, ele busca preparos mais elaborados. Os destaques do jantar: Açaí “bun” (pão de açaí no vapor, peixe empanado na farinha d’água, picles de maxixe e pimenta agridoce), Filhote assado na brasa e a sobremesa Mousse de chocolate inspirado no Combú ( com nibs de cacau do Combu, crumble de chocolate do Combu e doce de cupuaçu). Não sou de doces nem uma amante de chocolate, mas esta sobremesa vale a visita. O equilíbrio entre textura, doçura e acidez é muito bom. Provamos esta sobremesa pelaprimeira vez há cinco anos e nunca esquecemos.


O Mercado Ver-o-Peso, Patrimônio Nacional Brasileiro, é uma atração à parte. Considerado o maior mercado aberto de alimentos da América Latina, é frequentado por turistas e locais, sendo uma miscelânea dos ingredientes e sabores. É bagunçado, cheio, deteriorado e sujo. Mas não digo isso para assustar, apenas para gerenciar expectativas, pois, ao lado de tudo isso, é rico, é colorido, é saboroso, é cultura!

Por lá, encontra-se de tudo um muito: camarão seco, castanha do Pará, farinhas de mandioca de todo tipo, verduras, legumes, ervas, garrafadas, peixes frescos (lindos!), pimentas, goma de tapioca, frutas locais e barracas de comidas para café da manhã e almoço: o famoso peixe frito com açaí (puro!) e farinha; beijus de tapioca, tacacá, etc. A chicória (coentro do Pará) perfuma parte da feira. As pimentas colorem o ambiente (amo – graças à vovó Eda – a cumari, também chamada de cheiro, embora seja bem picante). O jambu (agrião do Pará), bem mais macio do que o encontrado aqui, é vendido em várias barracas. Eu, como uma amante do agrião, pedi porção extra em todos os lugares em que comemos. A dormência deixada na língua é viciante!  Outra coisa legal de fazer na feira é provar as frutas amazônicas, como abricó de macaco, tucumã, cupuaçu, etc. A barraca da Carmelita é um ótimo local para provar de tudo um pouco. Embora eu imagine que o Ver-o-Peso não seja o local mais barato para comprar as frutas locais, acho que vale a pena o incentivo do comércio alí.

Estando em Belém, um prato imperdível é o Tacacá, um caldo à base de tucupi com goma de tapioca, camarão seco e jambu, servido com pimenta a gosto. Para uns estranho, para outros viciante. Vez ou outra, dispenso o camarão, mas sou do segundo time e acredito que há algo de medicinal na combinação.

O tucupi é a parte líquida da mandioca (brava – a mansa é chamada de macaxeira) fermentada, por cerca de 24 horas, e fervida por, pelo menos, 40 minutos para a elimiação da toxina (cianeto).

Porém, nesta viagem, uma descoberta me deixou bem chateada: em vários lugares, estão usando glutamato monossódico (‘para dar mais sabor’ – digo que já é muito rico) e um excesso de açúcar (para amenizar a acidez – que é deliciosa!) nesse caldo. Percebi ao tomar um Tacacá famosinho na cidade. Como tenho sensibilidade ao glutamato, após o terceiro gole, percebi o seu uso. Após pesquisar com algumas pessoas, descobri que tem se tornado comum. Então, não custa ficar sempre atento se realmente estamos consumindo comida de verdade sem a adição de químicos.

Outro passeio gastronômico bacana que fizemos foi a visita guiada à Casa de Chocolate da Dona Nena na Ilha do Combu (instagram: @filhadocombu). Esse é o chocolate usado na mousse de chocolate do Remanso do Bosque.

O passeio começa com a travessia do Rio Guamá, durante a qual é possível apreciar a silhueta da Floresta Amazônica de um lado e da cidade de Belém do outro. Na chegada, Dona Nena nos contou a sua história e serviu um lanche à base do cacau, do chocolate e da geleia de cupuaçu que produz. Fizemos uma pequena caminhada pela floresta e, por fim, ouvimos a explicação de como é o processo produtivo do chocolate rústico. O passeio terminou com um almoço na beira do rio no restaurante Saldosa Maloca.

Outro pontos turísticos visitados foram o lindo Mangal das Garças, o Theatro da Paz e a Estação das Docas. Há vários outros lugares interessantes para se conhecer.

Na próxima postagem, contarei um pouco sobre Alter do Chão.


Dicas extras:

– Belém não é uma cidade das mais seguras, então, é importante andar com atenção, como nos centros da maioria da cidades grande brasileiras.

– A visita guiada no Theatro da Paz é rapidinha e interessante.

– O Mangal das Garças é um passeio muito agradável. Dizem que o restaurante também é bom, mas não tivemos tempo de ir.

– Para a comprar ervas e sementes (cumaru, guaraná, sucupira, etc.), vale a pena visitar a loja Ponto das Ervas, próxima ao Ver-o-Peso.

– Assistir o pôr-do-sol na Estação das Docas é um belo espetáculo.

Nós na Estação das Docas (Foto de Leo Gazzola)

2 comentários em “Pará – Parte 1: dois dias de experiências gastronômicas em Belém

  1. Que delícia de relato, moça! Já dá vontade de voltar lá. Deixa a dica da tapioca molhada de coco da dona Lúcia, lá no Ver-o-Peso. Só de lembrar já estou salivando. Adorei a postagem comemorativa do novo layout, que está leve, lindo, funcional. Parabéns ao Bruno tb! E vida longa ao Tampopo!

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